domingo, abril 23, 2006

«Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada
Entregai-vos ao travo doce das delícias
Que filhas são dos seus tormentos
Porém, não busqueis poder no amor
Que só quem da sua lei se sente escravo
Pode considerar-se realmente livre»

(Fernando Pessoa)

quinta-feira, abril 20, 2006

Porto

«Coração que do rio
o sangue e a música retira.
Gaivota de pedra,
navio
e lira.»

(Albano Martins, in " O Poeta e a Cidade")

quarta-feira, abril 19, 2006

Saí por aquela porta
como se o dia fosse acabar.
Baixei os braços e entreguei as minhas armas
ciente que, só assim, conseguiria vencê-lo.
Mas não era esse o meu destino.

«Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.»

(Fernando Pessoa)


(Fotografia tirada por: Filipa)

«O que constrói o Porto ao longo dos anos é o carácter do portuense. O que ergue o Porto ao lado e acima de outras grandes cidades é o trabalho dos portuenses. O que transforma uma pequena comunidade numa grande cidade, todos os dias, é o amor dos portuenses pela sua cidade. O resto é fachada.»

(Manuel Serrão)

terça-feira, abril 18, 2006

Ser Feliz

«Posso ter defeitos,
viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo,
e que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas
e tornar-se um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si,
mas ser capaz de encontrar um oásis
no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica,
mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...»

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, abril 14, 2006

Porto da minha infância

«... Lisboa em gesso branco, o Porto em pedra escura,
Sobre os abruptos alcantis do Douro;
Esse rio que vem de longe, solitário,
Cobrir-se de asas brancas de navios
E de negros canudos de vapores.
Encostados aos cais, depõem a férrea carga.
Outros, vão demandando a barra e o farolim,
Que dá uma luz - tão triste! - em noites invernosas.
Distante, no poente, esfuma-se uma nódoa
Em verdes tons fluidos que palpitam
Numa névoa indecisa, vaga imagem
Da tristeza do mar pintada em nossos olhos.

Porto da minha infância!
A primeira impressão que me causaste
Tenho-a, cheia de espanto, na memória,
Cheia de bruma e de granito!
É uma impressão de inverno,
Sombra cinzenta, enorme, donde irrompe
Alto cipreste empedernido
No meio de sepulcros habitados. [...]»

(Teixeira de Pascoaes, in "O Poeta e a Cidade")

quinta-feira, abril 13, 2006

O Poeta e a Cidade

Numa das minhas buscas por informações relacionadas com a cidade do Porto, descobri um livro que me despertou algum interesse, uma vez que aprecio poesia e sou admiradora da escrita de Eugénio de Andrade (como já devem ter reparado!).
Trata-se de "O Poeta e a Cidade", uma antologia de poesia contemporânea dedicada à cidade do Porto organizada por Eugénio de Andrade, com uma aguarela de António Cruz.


«É pura evidência, ao folhearmos este livrinho, que faltou ao Porto um Cesário Verde. Mas a prosa sobre a cidade, nalgumas páginas de Camilo, Raúl Brandão, Agustina e Mário Cláudio, sobe a tal altura que a compensa largamente de não ter tido a celebrá-la um poeta de tal dimensão. Eu próprio acabei por escrever sobre esta cidade melhor prosa do que em verso. Poesia de prosadores, que poderia perfeitamente aqui ter lugar (a dualidade poesia/prosa, pensam alguns que, em última análise, é difícil de sustentar), não fora o respeito pelas distinções feitas pelos autores. Apesar da reserva, ainda arranjámos um bonito ramo para que você possa oferecer ao padrinho pela Páscoa.»

(Eugénio de Andrade - Foz do Douro, 1996)


(Aguarela de António Cruz - Casario da Sé, 1945)

quarta-feira, abril 12, 2006

Passeio Alegre

«Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para as dobrar pela cintura.
Invulneráveis — assim nuas.»


(Eugénio de Andrade - "Rente ao Dizer", 1992)

Daqui Houve Nome Portugal

Deixo aqui a sugestão de um livro interessante: "Daqui Houve Nome Portugal", uma antologia de verso e prosa sobre a cidade do Porto, organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade e com a selecção artística e arranjo gráfico de Armando Alves.



Portucale

«(...) Lá na leal cidade, donde teve
Origem (como é fama) o nome eterno
De Portugal, (...)»

(Luís Vaz de Camões - "Lusíadas", Canto VI)


Porto, a segunda cidade mais importante de Portugal e capital da região do Douro Litoral, baptizou com o seu nome inicial - Portucale - o reino de Portugal como país independente, em meados do século XIII. De forma a evitar confusões entre o nome da cidade e do reino, no século XIII dá-se a simplificação do nome da cidade para Portus (Porto).
O nome Portucale deriva das palavras Portus e Cale (abrigo): "Porto de Abrigo". Cale foi o nome dado ao aglomerado junto à Sé Catedral, construída durante o século XII, sobre as fundações de um castelo Suevo.


«(...) Para Fuco O'Soer a origem do termo Cale parte da Deusa mãe dos celtas Calleach, pois, segundo ele, era costume romano na altura nomear aos povos conquistados pela denominação dos seus deuses. Isto dá, para lembrar-nos, que o nascimento da Calécia como entidade política, produziu-se após a batalha do Douro e a posterior conquista romana. Para este autor, os celtas do Douro, virão a ser os Cal-laic-us (Calaicos) ou filhos da Deusa mãe dos celtas Cal-leach. Cuja referência se tem encontrado numa inscrição na forma Calaic-ia no lugar de Sobreira, perto do Porto.
Uma outra análise do radical Cale no âmbito das línguas célticas: Palomar Lapesa (1957) e Alberto Firmat (1966), liga este com o significado de "pedra", "rochedo", "duro", cuja expressão se adequa com rigor às características geológicas e graníticas da cidade, nomeadamente do morro da Sé. (...)»


(Luís Magarinhos Igrejas, "Sobre a origem e o significado das palavras Portugal e Galiza")

terça-feira, abril 11, 2006

Aquela triste e leda madrugada

«Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se d'uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio
Que d'uns e d'outros olhos derivadas
S'acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas


(Luís Vaz de Camões)

Ponte de Lima


«Tem uma ponte de pedra bastante larga e comprida e de tão grande formosura, que no meu parecer não se encontrará outra na cristandade de igual obra, beleza e magnificência»


(Jacobo Sobieshi, 1611)




(Fotografias tiradas por: Filipa)

segunda-feira, abril 10, 2006

Há dias em que me sinto assim...

Há dias em que me sinto assim...
Não sei bem explicar porquê, simplesmente me sinto assim.
O céu azul, o sol brilha, sente-se uma aragem fresca no ar
e ouve-se ao longe o chilrear dos pássaros.
Tudo parece perfeito.
Por momentos, esqueço as confusões do dia-a-dia
e sinto-me envolta por uma sensação de leveza.
Pura liberdade de pensamento!
Caminho por esse mundo fora
sem ter noção do tempo e do espaço.
As barreias confundem-se e desaparecem no ar.
Tudo parece perfeito.
Há dias em que me sinto assim...

sexta-feira, abril 07, 2006

Um fim de tarde bem passado na Barra (Aveiro).




(Fotografias tiradas por: Filipa)

quinta-feira, abril 06, 2006

Para cada lugar que olho,
vejo um momento único.
Na minha mente passam mil imagens que tento gravar,
mas não consigo!
Não tenho capacidade para as acompanhar!
Resta-me apenas, gravar alguns desses momentos
através das minhas fotografias...
que não são mais do que recordações
para mais tarde partilhar.

quarta-feira, abril 05, 2006

Mesmo num dia de chuva, a Costa Nova consegue ter os seus encantos.









(Fotografias tiradas por: Filipa)

terça-feira, abril 04, 2006

O jardim e a casa


«Não se perdeu nenhuma coisa em mim.
Continuam as noites e os poentes
Que escorregam na casa e no jardim,
Continuam as vozes diferentes
Que intactas no meu ser estão suspensas.
Trago o terror e trago a claridade,
E através de todas as presenças
Caminho para a única unidade
»


(Sophia de Mello Breyner Andresen, “O Jardim e a Casa”, 1999)

Recordações...

Entre os muitos emails que recebo diaramente, houve um que me chamou à atenção e me trouxe à memória bons momentos passados na minha infância. Quem não se lembra dos desenhos animados "Tom Saywer" de pés descalços, "A Volta ao Mundo do Wily Fog", "D'Artacão e os Três Moscãoteiros", entre muitos outros?

Para quem quiser relembrar esses tempos, deixo aqui um regresso ao passado!

segunda-feira, abril 03, 2006

Rio Leça

«Nas margens do seu leito desfrutei
esse cantinho aonde me isolava,
remanso sereno que me encantava:
o mais belo, da casa que habitei.

Como quem mal não cuida, reparei
que um desvio à sua volta o rondava,
e a tão amargo fim o condenava,
vítima das marés, progresso e lei...

Sei que vive ainda, - quão maltratado!...
- Chega até mim, num eco destroçado,
saudade, dos seus barcos rio-acima!...

Das suas margens floridas, saudosas,
se evaropou o perfume das rosas!...
Ai, meu rio Leça, de tão triste sina!...»

(Inês Sá - "Ecos da Minh'Alma", 1993)